quinta-feira, 29 de julho de 2010
concerto breve
aos poucos
passo da manhã
à noite
da esfuziante claridade
que entontece
à plácida penumbra azulada
do anoitecer
e me acalmo
e me sonho
uma paz de água rasa
em contínuo movimento
mansas marés
escoando sobre mim
antes que amanheça
Márcia Maia
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Espelhos
segunda-feira, 26 de julho de 2010
sexta-feira, 23 de julho de 2010
desdisse o amor tudo aquilo que eu dissera
desdisse o amor tudo aquilo que eu dissera
quando escrevi que era tudo e mais além
como pudeste escrever tanta tolice
e riu-se o amor (que de escárnio sabe rir
o amor também) — nada disse fiz-me espera
e vi o amor se gabar do que não tem
(porque vaidade urde só parlapatice)
num vai e vem que não cansa de ir e vir
e chega aonde essa eterna romaria
o que farás dessa imensa zombaria
dize-me amor tu que agora ris assim
calou-se o amor nada dizer poderia
e em meus olhos leu aquilo que temia
quão tolo foste ao partir amor de mim
Márcia Maia
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outra voz; np
terça-feira, 20 de julho de 2010
Longe do Paraíso
Vagando à noite, sob a luz esverdeada dos letreiros de néon, sentia frio. Chovera. Nas esquinas empoçadas, nos vidros das vitrines mal iluminadas, se via refletida e não se reconhecia. Uma saudade de árvores lhe vazava o peito. Pensou em se jogar do viaduto. Demasiado urbano. Pensou em se jogar no rio. Mas não era rio aquela água escura e fétida cheirando a esgoto e desespero. Pensou em tantas saídas. Mas se escusou de entrar naquele teatro, que se dizia mágico, e se oferecia aos raros e aos loucos. Não, não era a hora de mostrar-se a si inteira e nua. Não agora. Não ainda.
Márcia Maia
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sábado, 17 de julho de 2010
epigrama
em cada verso de amor
há um naufrágio iminente
um tsunami descrente
seu imanente furor
e um campo de margaridas
o resto é tolice
(artifício de escrita)
acácia desflorida no verão
Márcia Maia
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onde a minha rolleiflex
quinta-feira, 15 de julho de 2010
cantiga
e se eu disser que não sei o que sinto
te digo e minto pois sei que guardara
a manhã clara nas mãos sob as saias
— ris ou me vaias se assim te disser
e se eu disser que é tal qual vinho tinto
digo e não minto sei que maculara
a manhã clara nos bosques de faias
— ris ou me vaias se assim te disser
e se eu disser que inteiro és-me indistinto
te digo e minto pois te procurara
na manhã clara dentre as samambaias
(de alvas cambraias fiz-te veste e cinto)
se em tuas praias meu barco atracara
— ris ou me vaias se assim te disser
Márcia Maia
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cotidiana e virtual geometria
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Octopus's Garden
Nem pitonisa nem serpente. Nem cigana nem mago. O novo vidente, sinal da modernidade dos tempos, é um molusco. Cefalópode. Bentônico. Da ordem dos octópodes. Com oito braços providos de ventosas. Concha ausente. Corpo globular. E sem nadadeiras. Um polvo! De aquário. Nem habitante do mar. Súdito exilado de Netuno. Vidrado em futebol. Acertou todas. Aos quatro ventos cantou a eliminação da sua pátria germânica. Talvez por cansado de aquário. E a vitória de España. Talvez por saudade do mar. Findada a Copa e temendo transformar-se em polvo ao chucrute ou mesmo em paella à moda alemã, roga proteção ao Greenpeace. E às sociedades protetoras dos animais. Não sabe se conseguirá.
Márcia Maia
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sexta-feira, 9 de julho de 2010
concerto para uma só voz
a minha
:
no mais profundo silêncio
Márcia Maia
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um tolo desejo de azul
terça-feira, 6 de julho de 2010
a eternidade em um dia
alfred eisenstaedt©
1945
o grito preso na garganta alça voo e dançam
paris nova iorque moscou stalingrado
um olhar uma câmera um clique
um beijo efêmero e um instante eternizado
(
194619471948194919501951195219531954
195519551956195719581959196019611962
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198119821983198419851986198719881989
199019911992199319941995199619971998
199920002001200220032004200520062007
20082009
)
2010
morre em los angeles edith — que por conta
de um beijo jamais envelheceu
Márcia Maia
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sábado, 3 de julho de 2010
Astronauta, não!
abril.09: letícia, 4 anos e 8 meses marciamaia©
— Você vai ser o que quando crescer, Letícia?
— "Asquiteta".
— Oi, e você não queria ser engenheira ou médica?
— Também. Mas eu ainda não resolvi, vovó. Só não quero
ser astronauta.
ser astronauta.
— Por que?
— Pra não ser engolida por um buraco negro.
— Buraco negro?!
— É. Ele engole tudo. Engole até as estrelas. Sabia não?
Márcia Maia
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