sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
vigília
ainda um pouco de noite
na noite
o silêncio alternando-se
com a brisa
os passos apressados de
algum retardatário meio-
tonto de bebida ou de cansaço
talvez um cão
decerto um gato
e essa vontade antiga
vã e velada
de que se prolongue
para sempre a madrugada
Márcia Maia
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um tolo desejo de azul
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
urbano em demasia
um dia inteiro de britadeiras à porta
inferno aos ouvidos
reformam o sobrado da esquina
e por toda a vizinhança
soçobram versos canções risos
e mesmo o que a alguns resta de juízo
quem os haverá de resgatar findada a obra
Márcia Maia
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um tolo desejo de azul
domingo, 23 de janeiro de 2011
aquarela
silêncio de domingo sobre a tarde
um quê de luto — lilás e
violeta — sob as
pálpebras
Márcia Maia
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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
coisas do sentir
o que os olhos não veem
o coração não sente
(
o problema é o cheiro
)
Márcia Maia
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livro da tribo 2011
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Paisagem na janela
Tenha paciência comigo, ele disse, pouco antes de adormecer no sofá, embriagado demais para o amor. E ela, que o amava mas não tinha o menor saco pra conversa de bêbado, tirou a roupa e estirou-se nua no ladrilho da varanda. Chovia fino. Uma nuvem escondera a lua. Deixou que a mão descesse até a vulva, abrindo os lábios e tocando o grelo, leve e ritmadamente. Masturbou-se longamente, mudando o ritmo, prolongando o prazer, adiando o gozo. E adormeceu sem perceber os dois adolescentes quase imberbes que, na janela do vizinho, a observavam, masturbando-se e gozando, repetidamente, com furor.
Márcia Maia
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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
o avesso do desejo
lilya corneli©
te encontraria
no deserto
às dez e meia
tonto de luz
passos trôpegos sobre a areia movediça
eu te desnudaria
meio-dia
sol a pino
e te manteria prisioneiro
até que tingisse
a tua pele
o mais negro ou rubro tom
e cegasse os teus olhos o sol da tarde
te abandonaria então
nu e insone
meio às sombras
sem sonhos
onde te escondias das noites quentes
de antigos janeiros
por fim partiria
liberta
de ti
e do cárcere gelado
dos interditados verões do teu amor
desejo ao avesso
ainda pulsando em mim
Márcia Maia
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terça-feira, 4 de janeiro de 2011
os degraus
sigo em frente — um a um desço os degraus
(a despeito dos avisos do poeta)
se me espera um sonho novo ou pesadelo
saberei quando chegar onde me levam
vejo vultos se achegando a essa escada
e lanternas que parecem flutuar
ouço vozes que se alternam em gemidos
a bailar qual acalanto em meus ouvidos
e então vejo frente a mim a me fitar
minhas faces mais antigas e (encantada)
em seus olhos que são meus e me relevam
eu mergulho corpo e alma —nua em pelo
a seguir me faço verso e raio e seta
— quintaneio em sonhos bons os dias maus
Márcia Maia
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domingo, 2 de janeiro de 2011
adágio grave
ana cristina césar©
um corvo alça voo na manhã do ano-novo
ave negra sobre o céu azul
plana majestoso como se o tempo
em círculos desdobrasse
e pousa no telhado solitário
entre augúrio e agouro — istmo de asas
Márcia Maia
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sábado, 1 de janeiro de 2011
márcia maia©
o ano novo
derrama-se na sala
instala-se
— à vontade—
como um velho conhecido
Márcia Maia
que 2011 seja um ano feliz para cada um de vocês, meus amigos
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