domingo, 27 de fevereiro de 2011

Íntimo


alan klug©




















O maço vazio de cigarros. A xícara de café, ainda a meio. O livro aberto na página oitenta e três. A toalha úmida esquecida na cadeira. A quase-ausência. E o perfume imiscuído nos lençóis.



Márcia Maia


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Com destino


henry cartier-bresson©


Bala sabe que peito fere. Faca, também.
Dor, não. Mente.



Márcia Maia


sábado, 19 de fevereiro de 2011

sursis


emudeceram-me a voz e os dedos
emudeceu-me o metafórico
coração

sumiram-me os poemas

deixaram-me o olhar turvo
o corpo cansado
a vida vazia

sem explicação

ter-me-á abandonado
definitivamente
a Poesia



Márcia Maia


sábado, 12 de fevereiro de 2011

sujeito a chuvas


em cinza e vento
espreguiça-se a manhã
e já vai a meio

chove
nem parece fevereiro

entre livros e discos
me aconchego

e sonho sonhos de junho
se adormeço



Márcia Maia


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Porque hoje, 9 de frevereiro, é o dia do frevo:





quase um frevo-canção


era a noite era o pátio era o frevo
era o povo era o passo era a rua

a cerveja esfriava na mesa
e uma a uma as orquestras passavam

se uma história doída findava
(sem sequer revelar-se à tevê
cuja luz bem ali se acendia)
uma nova se já pressentia
(só a lua sabia o porquê)
quando spock edgar jazzeava

e as canções do coral evocavam
do passado o valor e a beleza

nos despiram depois noite e lua
e mais nada direi — não me atrevo



Márcia Maia





domingo, 6 de fevereiro de 2011

antropofagia


desencantada
sirvo-me em pedaços
à mesa dos desesperados



Márcia Maia


terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"En écoutant la pluie..."





1,65, ele disse. Altura é problema pra você? Não. É só uma questão de escolher sapato, do tamanho do salto, do alto dos seus 1,76, ela respondeu. Um pequeníssimo silêncio se seguiu. Ele às voltas com sua altura real. Ela a pensar que casal estranho formariam. Se bem que em tempos de Carla Bruni e Sarkozy, altura era o de menos. Nua, diante do espelho, ela riu. Então, amanhã às seis? ele perguntou. Amanhã às seis. Quando o amanhã chegou, chovia a cântaros. Às seis, tudo era enxurrada. E ela, que tanto desejara aquele encontro, esquecendo Carla Bruni e Sarkozy, ligou o computador, abriu um vinho e preferiu ficar em casa.




Márcia Maia