O maço vazio de cigarros. A xícara de café, ainda a meio. O livro aberto na página oitenta e três. A toalha úmida esquecida na cadeira. A quase-ausência. E o perfume imiscuído nos lençóis.
era a noite era o pátio era o frevo
era o povo era o passo era a rua
a cerveja esfriava na mesa
e uma a uma as orquestras passavam
se uma história doída findava
(sem sequer revelar-se à tevê
cuja luz bem ali se acendia)
uma nova se já pressentia
(só a lua sabia o porquê)
quando spock edgar jazzeava
e as canções do coral evocavam
do passado o valor e a beleza
nos despiram depois noite e lua
e mais nada direi — não me atrevo
1,65, ele disse. Altura é problema pra você? Não. É só uma questão de escolher sapato, do tamanho do salto, do alto dos seus 1,76, ela respondeu. Um pequeníssimo silêncio se seguiu. Ele às voltas com sua altura real. Ela a pensar que casal estranho formariam. Se bem que em tempos de Carla Bruni e Sarkozy, altura era o de menos. Nua, diante do espelho, ela riu. Então, amanhã às seis? ele perguntou. Amanhã às seis. Quando o amanhã chegou, chovia a cântaros. Às seis, tudo era enxurrada. E ela, que tanto desejara aquele encontro, esquecendo Carla Bruni e Sarkozy, ligou o computador, abriu um vinho e preferiu ficar em casa.