sábado, 31 de março de 2012

Clarice



Toda uma vida e apenas três palavras. Dissera acácia, ao adolescer e apaixonar-se por um Artur que tantos criam imaginário. E então, antúrio, ao ser por ele brutalmente violada. Anos depois, disse nenúfar. Três dias antes de afogar-se onde nunca houvera água. 



Márcia Maia 


sábado, 17 de março de 2012

versos de circunstância


a lua minguante amanhece o dia
o céu a custo azulece

a varanda range sob as sandálias

enquanto as lâmpadas da rua
ainda acesas douram as folhas

caídas do ipê sobre a calçada



Márcia Maia


segunda-feira, 12 de março de 2012
















Todo o Azul


A Carlos Pena Filho


De tanto azul é feita
esta cidade
céu azul
mar azul
e um rio
a ousar azuis proibidos
em manguezais profanados.

Homens de negros cabelos
azuis
e mulheres de peitos despudoradamente
azuis
tecem nos bares da cidade
a trama dos sonhos
reinventada a cada
madrugada
igualmente azul
enquanto mendigos e cães
se confundem
no azul melancólico das
calçadas.

Ah, Carlos
Recife continua azul
embora velho, doente
distante e saudoso do teu tempo
mas sempre
irremediavelmente
azul!



Márcia Maia


sábado, 3 de março de 2012

saudade















essa coisa que dá um nó na gente
que aperta aperreia e faz chorar
e não tem jeito claro pra explicar
que diacho é aquilo que se sente
mais parece ser coisa de demente
não é raiva ou tristeza nem mania
nem remorso ou amor nem latomia
alegria então mesmo é que não é
é uma falta de ver quem ver se quer
é querer ter quem tanto se queria



Márcia Maia


Na foto, Pedro Jorge de Melo e Silva, meu imenso e querido amigo: hoje faz 30 anos que ele foi covardemente assassinado. E eu ainda sinto saudades suas todos os dias.