domingo, 26 de setembro de 2010



diego rivera: tina na terra virgem.        foto: tina modotti©



















Nasci pássaro e peixe
e tigre e cisne
e gazela.
Nasci água e correnteza
e música e ventania.
Nasci outono e primavera
amanhecer e lua cheia.
Nasci mar do mar
maré que vai
e vem.

Cortaram-me asas, secaram-me
rios.
Invisíveis grades e aquários
me enclausuraram.
A alma, esvaziaram-me em
invernos desertos
cegos de lua, sedentos de mar.

O espectro de mim em que
me tornei
nutre-se da música oculta
no silêncio.

Emudecido o silêncio
nada restará:
pássaro, tigre ou gazela.
Tampouco eu.
Só ausência
e quem sabe, paz.



Márcia Maia



3 comentários:

Breve Leonardo disse...

[como uma revelação da criação do mundo, criação interior, acontecida serena, na palavra]

um imenso abraço,

Leonardo B.

Udi disse...

sempre maravilhosamente sonora... ainda que em silêncio!
bj!

Manuel Veiga disse...

ascese de poeta. em direcção ao Todo. e a Paz...

belíssimo

beijos