sábado, 30 de abril de 2011
íntimo
sentes?
esse arrepio que disfarço
essa chuva que dentre as pernas
se me brota
umedecendo-me secretamente
esse descompassado bater do meu
coração urdindo
jam sessions de desejo
dentro em mim
enquanto olhar sereno riso
nos lábios
todas as tuas histórias escuto
sem que te apresse
sem que me apresse
sentes?
Márcia Maia
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livro da tribo 2007
domingo, 24 de abril de 2011
adágio
sons dourados de seda
e lavanda
e o veludo das canções
em meu pescoço
e esse cheiro de saudade
e lua cheia
e o gosto de manhã-raiando
em minha boca
ah por que fui abrir
o baú antigo da memória
Márcia Maia
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sexta-feira, 22 de abril de 2011
A chuva enxágua as calçadas
da sexta-feira
deserta.
Encharcada, a miséria se abriga
sob os pórticos das igrejas
antigas
pintadas de novo
- preciosamente preservadas -
sombria imagem de esquecidos.
Não há páscoa, nesta cidade
de vivos-mortos.
Sem ressurreição e sem saída
aqui é sempre
- e todo dia -
sexta-feira da paixão.
Márcia Maia
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Poesia Sempre nº 15
terça-feira, 19 de abril de 2011
como um cântico
amit gupta©
chove
a tarde é fria e cinza
quase chumbo
quase noite
quase mar
onde deságua o rio
que brotou
há tanto tempo de meus
olhos-ônix
perjuros e vazios
maré cheia
enxurrada
correnteza
: quase nada pra lembrar
Márcia Maia
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np
sábado, 16 de abril de 2011
quase um fractal
seja o tempo um segundo de segundo
e o segundo seguinte nada mais
baste ao tempo do tempo o de um segundo
pra ser noutro segundo nada mais
seja o tempo o infinito de um segundo
sem que seja um segundo nada mais
pois se nulo é o tempo de um segundo
no segundo um segundo é nada mais
se o tecido do tempo é o segundo
esgarçado o segundo é nada mais
Márcia Maia
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cotidiana e virtual geometria
terça-feira, 12 de abril de 2011
inventário
não sei de aranhas
nem de fios
sei de teias
não sei de pássaros
tampouco de borboletas
sei de vôos
sei de vertigens e abismos
de asas partidas
de mãos vazias de gestos
(da ausência de versos)
e sei também de dor e desamor
mas isso fica para
outro poema
Márcia Maia
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em queda livre
domingo, 10 de abril de 2011
Crônica de uma alegria anunciada
São Pedro cooperou e a chuva foi embora. Ele deve gostar do que escrevo. No céu, algumas estrelas e uma isca de lua, uma lua muçulmana como eu costumo chamar. O Mercedes café era simples e charmoso e os amigos habitavam suas mesas. O riso corria solto, de braço dado com a poesia, mesmo sendo em prosa o meu Sem amém. Mas quem é da poesia nunca dela se desliga por inteiro, não é? Vez em quando, me sorriam da calçada os amigos mais distantes. Vi Eduardo Domingos sorri quando falei dos contos mortais. E de longe abraçar os Maias todos ali reunidos. Vi Maria Gomes partilhando a alegria do momento como sempre. Os dois a provar por a+b que o Atlântico é apenas um riachinho a unir os nossos corações. A todos os que foram ao vivo e aos que lá estiveram em pensamento e coração, o meu imenso obrigada. E o meu melhor beijo.
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das coisas boas da vida...
sábado, 9 de abril de 2011
Aniversário

No dia em que a dor abrigou-se em sua casa, tomou uma decisão. Colocou na parede, um calendário. E enquanto dia a dia, mais tirana do que hóspede, invadia e devastava os recantos mais secretos de sua alma, ela esperava. A cada manhã, tendo sobrevivido a outra noite de terror, lágrimas, medo, e solidão, arrancava uma folha do calendário. A cada dia, uma dor, uma folha, menos um dia. Assim viveu durante quase um ano. Contando dias. Rompendo prazos. Colando cacos de alma e coração. Migalhas de amores. Agora, apenas uma folha restava. E a dor cicatrizara feito rocha em seu peito. Mas ainda imperava soberana sobre a casa. Acordou cedo. Fechou portas e janelas com cuidado. Em cada canto, porta, armário, piso, pia derramou solenemente a gasolina. E antes de riscar o fósforo e pôr fim à invasão e à tirania, arrancou a última folha do calendário.
Márcia Maia
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sem amém
quarta-feira, 6 de abril de 2011
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