sexta-feira, 29 de junho de 2012

O transplante

picasso©






















Por velho e cansado, desejei transplantar-me o coração. Em seu lugar, poria um cacto. Um tenro cacto, de folhas espessas e raros espinhos. Assim o fiz, não sem uma pitada de receio. Agora, quase um ano depois, nos damos bem, eu e o meu coração-cacto. Do antigo, herdou o vício de amar, bem mais contido. E por ser cacto, se acaso chora, não sangra, embora tenham seus espinhos crescido e me firam, vez por outra, quando abriga-se a saudade em meu peito.



Márcia Maia



6 comentários:

Breve Leonardo disse...

[esse o coração,

que não vem destacado nos manuais, nem nas teorias gerais da solidão.]

um imenso abraço, Amiga Márcia

Lb

Anônimo disse...

Que lindo, Márcia!

Quantas vezes na vida não acabamos colocando mesmo um cacto naquilo que já está costumado a se ferir.

Beijo.

mfc disse...

Que texto poético tão lindo!
E que coração tão poético...

Beijinhos,

dade amorim disse...

Lindo texto, Márcia.
Ando querendo ler os poemas amigos, e o tempo não deixa.

Beijo grande.

Elisa Cunha disse...

cacto, clima seco, solo áspero, tempo quente. e a saudade, aquele chuvisco que bate e passa tão depressa, nos engana... rs

abraços!

Luna Freire disse...

Bom é que cactos-coração dificilmente ficam secos...mesmo nos solos mais áridos.