quarta-feira, 31 de agosto de 2011
pequeníssima serenata
digo noite para esperar que
enciumada a manhã
se apresse a apagando estrelas
em tons de rosa
desnudar-se
Márcia Maia
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domingo, 28 de agosto de 2011
colorindo borboletas e manhãs
para Letícia e Manuela, minhas princesas-maluquinhas
um soneto num domingo de manhã
sem que exista quase nada pra dizer
(paro um pouco a imprimir as borboletas
que as meninas tanto querem colorir)
céu nublado tolhe até o bem-te-vi
que se encolhe com preguiça de cantar
se alvoroçam folhas secas contra o vento
que ao cair tingem a rua de amarelo
é domingo e enquanto as netas se divertem
colorindo borboletas e manhãs
exercito o que seria disciplina
e em verdade se traveste de prazer
coisa simples conhecida companheira
dos que têm a poesia em suas vidas
Márcia Maia
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sexta-feira, 26 de agosto de 2011
crianças nunca saem a passear de manhãzinha
entre as cinco e as sete de dentro dos edifícios eles saem a passear. os cachorros. acompanhados por seus donos quase sempre sonolentos. caminham pelas calçadas em alvoroço deixando à sua passagem um rastro interminável de cocô. que os pedestres durante o resto do dia caminhando em zigue-zague tentarão a todo custo evitar. semelharia paris não fosse o estado esburacado das calçadas e os meninos semi-nus adormecidos junto a frascos de cola sob a marquise.
Márcia Maia
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terça-feira, 23 de agosto de 2011
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Por um instante
Na sala de espera, mulheres. A maioria acima dos quarenta. Cuidando de suas vidas. Sós. Exceto duas, sentadas ao lado dos maridos. Dois casais. Um, urbano, classe média, elegante. Outro, do interior, roupas simples, faces marcadas de sol e rugas. E por um instante, só por um instante, aquele em que, quase simultaneamente, as duas entraram na sala de exames, de mãos dadas com os companheiros, a solidão descompassou os corações das outras mulheres, sentadas sós, na sala de espera.
Márcia Maia
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sábado, 20 de agosto de 2011
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
em bom português
dezessete de agosto é nome de avenida
que cruza bairros bucólicos
parnamirim apipucos monteiro casa forte
mas para mim esta noite dezessete de a
g
o
s
t
foi sem meias palavras só mais um dia foda
Márcia Maia
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sábado, 13 de agosto de 2011
para um poema de amor
acordei querendo escrever um poema de amor
um poema que de amor reluzisse
nessa manhã sem azul
que trouxesse de volta o bem-te-vi sumido
e reinventasse ninhos no pinheiro
e fantasmas amigos na varanda
vivos ou não
um poema que verdágua transbordasse
num misto de mar e capibaribe
de paralelepípedo e mangue
e que fizesse florir em pleno inverno os
baobás e todas as acácias
guardando os flamboyants para o verão
um poema que se negasse ao corriqueiro
eu te amo e dissesse do amar
com verso e rima
numa voz peculiar de gesto novo
que fosse efêmero como o bronze esverdeado
das estátuas e permanente como o brilho
que há nas bolas de sabão
que dissesse de mim sem me dizer
e alardeasse o querer de cada gente
dispensando os como os quando e todos os porquês
e que algum dia em um livro em um blogue
onde quer que alguém o visse
que se lhe abrisse um sorriso ao fim de o ler
Márcia Maia
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segunda-feira, 8 de agosto de 2011
once upon a time
meninos morriam de fome em biafra
suas fotos quase sempre em preto e branco
inundavam as revistas e os jornais
then o olhar se deslocou para etiópia
gente esquálida viva-morta já a cores
todo dia nas tevês e nos jornais
now a fome que se estampa é da somália
e não fosse a qualidade das imagens
dir-se-iam as mesmas fotos nos jornais
:
:
:
:
and yet we are the world o que para tantos
famintos não passa de uma canção
Márcia Maia
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sábado, 6 de agosto de 2011
Das coisas boas da vida
Márcia Maia©
Vovó, qual é o horário em que você vem nos buscar?, pergunta Manuela. Eu rio e digo: onde você aprendeu a falar assim? E ela, toda séria, do alto dos seus três anos e onze meses, responde: Observando os adultos, ora.
Márcia Maia
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