sexta-feira, 24 de junho de 2011

Quadrilha

















Vestido comprido, rodado, de chita estampada, com renda de almofada, babados e fitas. Chapéu de palha, camisa xadrez, calça enfeitada com remendos. Bandeirinhas coloridas de papel, fogueira, fogos, sanfoneiro. E a quadrilha. Padre, noiva, noivo, cabo de polícia e delegado, os pares a dançar enfileirados. Alavantú! Anarriê. Chã de damas. Outra vez. Chã de cavaleiros. Outra vez. Changê. Preparar para o caminho da roça. Caminho da roça. Olha a chuva. Choveu. Olha a chuva. Choveu. O marcador gritava e os pares, dançando, obedeciam. O suor escorria enquanto a noite avançava. Foi quando ele chegou. O antigo namorado. Vestido de cangaceiro. Embrenhou-se pelo meio da quadrilha. E atirou. No hora do casamento. Ninguém atinou que era de vera, o tiro. Ninguém percebeu que, dentre as flores da chita, uma nuvem escarlate apareceu E choveu sobre a blusa, sobre a saia do vestido. Até que a vida partiu. Ninguém notou. E ninguém viu. Até que a lua partiu. Até que o dia raiou. Até que a fogueira se extinguiu. Até muito depois que a quadrilha terminou.


Márcia Maia


3 comentários:

hfm disse...

Grande texto, minha amiga. E que beleza na tristeza!

mfc disse...

Uma alegoria fantástica!

dade amorim disse...

O trágico que tantas vezes se mistura ao que é leve. Um belo texto, Márcia.

Beijo beijo.