quarta-feira, 12 de maio de 2010

louva-deus

entre as hastes da persiana cor-de-gelo
se alojou um louva-deus de um verde
tão tenro de esperança
que comove

sobrevoa vez em quando a cama e o micro
e pousa displicente na colcha do beliche
por sobre e dentre os livros
de poesia

está aqui há quatro dias

e eu me pergunto o que quer o que pretende
um louva-deus no seu verde tão tenro de
esperança que comove
neste quarto

cor-de-gelo como a cor da persiana onde já
ninguém habitualmente habita além do
micro e da tevê e
do beliche

onde a sono solto hibernam as lembranças
meio a versos dentre os livros esquecidos
e outros mais a
escrever

estão aqui há quatro anos

e agora enquanto a madrugada se desfia
em guns n' roses cantando bob dylan
se revestem de esperança
e enverdecem

como fosse possível transmutar-se o gelo
da persiana e das paredes mais o velho
vermelho do beliche
pelo vôo

entontecido de algum simples louva-deus



Márcia Maia

4 comentários:

dade amorim disse...

Vivo, coroando livros de poemas, alimentado das cores desse quarto.
Ele deve saber o que faz,
e sente-se à vontade
o louva-deus-poeta.

Beijo pra você.

Tempo & Solidão disse...

puxa, adorei!!! principalmente o trecho:

onde a sono solto hibernam as lembranças
meio a versos dentre os livros esquecidos
e outros mais a
escrever

Manoel Carlos disse...

O louva-a-deus sozinho não faz ninho, outros louva-a-deus não gera, mas inspirou um poema que justificou sua efêmera existência.
Manoel Carlos

wind disse...

Nada como bater nas portas do céu:)
Beijos