sexta-feira, 29 de junho de 2012

O transplante

picasso©






















Por velho e cansado, desejei transplantar-me o coração. Em seu lugar, poria um cacto. Um tenro cacto, de folhas espessas e raros espinhos. Assim o fiz, não sem uma pitada de receio. Agora, quase um ano depois, nos damos bem, eu e o meu coração-cacto. Do antigo, herdou o vício de amar, bem mais contido. E por ser cacto, se acaso chora, não sangra, embora tenham seus espinhos crescido e me firam, vez por outra, quando abriga-se a saudade em meu peito.



Márcia Maia



terça-feira, 19 de junho de 2012

junho 19 23:50



chove                e eu hesito
entre programar o ar para
                   21
                   ou
                   22
                 graus
como se a diferença fosse
  algo além de um breve
eriçar dos pelos do antebraço

tolice                      filigrana
crochê tecido pela insônia



Márcia Maia


domingo, 10 de junho de 2012

manhãzinha



nem dália nem mangueira
(rosa tampouco)

só um canteiro de marias-
sem-vergonha

vermelhando a areia



Márcia Maia