Por velho e cansado, desejei transplantar-me o coração. Em seu lugar, poria um cacto. Um tenro cacto, de folhas espessas e raros espinhos. Assim o fiz, não sem uma pitada de receio. Agora, quase um ano depois, nos damos bem, eu e o meu coração-cacto. Do antigo, herdou o vício de amar, bem mais contido. E por ser cacto, se acaso chora, não sangra, embora tenham seus espinhos crescido e me firam, vez por outra, quando abriga-se a saudade em meu peito.
Márcia Maia